Brincar
Hoje
assisti a um vídeo que me remeteu a um mágico momento guardado na infância. Super-crianças,
bundas de aço ao solo, deslizando uma a uma no vão do tobogã de lama. A erosão
despelou a grama e o monte se vestiu de parque. Tanto barro como num sonho do mundo
de chantilly.
Há
remotos anos, éramos os primos os protagonistas. Na roça do tio, a chuva,
faceira, anunciava o portal da nova dimensão. Eco de trovoadas, chão argiloso
dissolvendo sob as marchas mirins. Pranto marrom escoando pela colina.
Escalada, conquistada! “Lama-lameira” era
o coro.
Plenitude de diversão, privilégio de uma geração.
Passadas
décadas, fito o horizonte na busca de novas colinas de barro. Onde meu
pequeno Vitor, hoje com dois anos, as encontrará?
No
seio da grande metrópole, os desfiladeiros são outros. Cibernéticos. Estáticos.
Extasiadas em seus tablets, as crianças estão assentadas. Bumbuns de almofada.
“Indicadores e polegares de aço, ativar”!
E
deu no New York Times. Anotei o nome: Nick Bilton. Contou tudo! Os
cyber-barões afastam o quanto podem a
parafernália da prole. Sim, os CEO’s do Vale do Silício. O daddy Jobs, ele
próprio, proibia os filhos de usar Ipad. Relação
droga e traficante? Nem tanto. Mas
nunca a máxima dos “pontos conectados” fez tanto sentido.
A
tecnologia é um carro sem freio, que desce desgovernado. Árdua a tarefa, de
pais e educadores, de lhe impor um rumo. Se impossível detê-lo, domemo-lo.
Que
tal começar por uma auto-avaliação? Nessa sala de espelhos, o reflexo da imagem dos pais na rotina
comportamental dos filhos é mais reluzente a qualquer ambiente acadêmico.
Sorria, você está sendo filmado J!
Seja, pois, o exemplo. Crie regras, visite sítios sem site, distancie-se do smartphone
aos fins de semana e sinta o aroma do belo prato de comida ao invés de
compartilhá-lo com seus seiscentos amigos do Instagram. O mundo, com seus
sabores e odores, ainda é real.
No
ápice da cultura consumista, os filhos são bons produtos. Ocultos entre
ventres, já marcam “rolezinhos” nos outlets internacionais. E como gastam. O
francês Olivier Teboul
recentemente listou curiosidades sobre o Brasil, uma delas cômica (ou trágica):
“não se assuste se, aqui, um aniversário
de dois anos se parecer mais com a coroação de um imperador romano”.
E
no império da frivolidade, lá estão os pontos novamente se conectando. Os
embriões, que outrora circulavam pelos corredores de Miami, agora, na
maturidade dos quatro anos, já falam inglês fluente, tocam violino e até lêem
partituras. Coitados! Apostaria num futuro mais feliz daquele de oito, que
ainda constrói galáxias de dinossauros com toquinhos de madeira.
Falta
uma pitada de quintal nessa insossa sopa de tecnologia, consumismo e
competitividade.
Lixo
para os pintos!