Laços e fios
Pela teoria dos seis graus de separação, seis laços de amizade são
suficientes para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas. É o número de
pessoas que te separa do Dalai Lama e de um pipoqueiro da Sri Lanka. Em Minas,
comemos palavras e teorias. Dos laços sobraram dois. Em Beagá, existem três
pessoas: “eu, você e alguém que conhecemos”.
Na trilha de bicicleta, noto a casinha. Uma construção curiosa, com
pilar e tudo. Das mãos de Thibau, a água de coco e o dedo de prosa. Trabalhava
no Minas Tênis, amicíssimo a Yara, tia da minha esposa, Lili. Conhecia a
família inteira. O filho tinha planos de montar ali um entreposto para os
ciclistas. “Aceitaremos até cartão de crédito”. Não fosse pelos dez quilômetros
restantes de ladeira acima, o papo ganharia a tarde. Era hora de seguir, não
sem antes de ouvir: “mande um abraço para Alcides”.
Na festa do Haroldo, Yara achou graça:
- Não é possível que você encontrou o Thibau em uma trilha de bicicleta!
Algumas semanas depois, estou de volta. O empreendimento vingou. Bicicletas
encostadas, bancos rústicos, açaí e paçoquinha. Atrás do balcão improvisado está
o Marcelo. Não o via desde quando namorou minha irmã, ainda arquiteta. O tempo
lhes incumbiu de seguirem caminhos distintos. Fernanda, dois casamentos, três
filhos, acaba de me solicitar a revisão de um projeto de tutoria para mindfulness.
Ele, um casamento a menos e dois países a mais. Não sei se medita, pela calma é
um guru. Coincidência maior, Marcelo é filho de Thibau.
Thibau, amigo da Yara, foi sogro da minha irmã. Os primeiros traços da
casinha cuja arquitetura um dia me fez encostar a bicicleta foram rabiscados por
ela. Enquanto observava Marcelo com o outro
freguês, lembrei de minha mãe. Uma artista do tricô, artesanato e quitutes. Tantos
anos sem aqueles sabores. Acreditem se quiser, há trinta anos, a melhor granola
do mundo era produzida no oitavo andar do Edifício Gil Pacheco, em Valadares. Tão
deliciosa que Marcelo e Fernanda vendiam algumas unidades: “Granola Girassol”.
Antes de sair, feliz com as coincidências, perguntei se Marcelo recordava do
fato.
- Renato, me lembro bem. Quando parti para a Espanha, minha irmã Paula herdou a
receita e hoje produz comercialmente. A granola da Mariza está na prateleira de
diversos estabelecimentos da cidade. Aceita um pouco? – Perguntou-me, já com a
colher da iguaria na mão.
Eis os novelos do acaso. Entrelaçados, conectados. Como os distintos grãos
daquela granola, que, em uníssono, tocaram meu paladar e embargaram os meus
olhos. Coincidência, aleatoriedade, conexão divina? Chamem do que quiser, a
tapeçaria cósmica, com os seus fios e laços, é bela como o sol que, naquela
tarde, se pôs defronte do guidão da minha bicicleta.
Muito bom, como sempre. E lá vamos nós, cada um com a a sua história que se entrelaça com a de um, de outro e de mais outro ...
ResponderExcluirSENACIONAL. NOSSOS LAÇOS SE UNEM TAMB´M POR SEUS BELÍSSIMOS TEXTOS. OBRIGADA BJU
ExcluirOI, Renato! Aqui é a Adriana, da Rua Carlos Gomes. Adorei o texto. Deu vontade de ouvir mais desta história. Gostei especialmente do último parágrafo com metáforas envolventes. Você escreve muito bem! Abraços pra você e Lili
ExcluirDeu vontade de continuar essa estória, ver como os personagens avançam e se entrelaçam! Parabéns!
ResponderExcluirViajei neste causo, me trouxe algumas lembranças de infância e vontade conhecer essa que me parece ser uma agradabilíssima parada de bike
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